Cerca de uma centena de pessoas realizaram uma vigília improvisada, nessa quarta-feira, em Buenos Aires, depois que um homem atirou um coquetel molotov no local onde viviam dois casais de lésbicas, provocando a morte de duas delas, num ataque considerado crime de ódio por ativistas.
Na madrugada dessa segunda-feira, o agressor incendiou o quarto de uma pensão onde viviam quatro lésbicas, atirando o explosivo, no "que constitui um crime de lesbofobia", escreveu o Ministério da Mulher da Província de Buenos Aires, em um comunicado.
O homem foi preso e está hospitalizado por ter ferido a si mesmo, informa o texto.
Uma das mulheres morreu na terça-feira e outra, nessa quarta, em consequência de queimaduras, confirmou à AFP María Rachid, representante da Federação LGBT Argentina. As outras duas ficaram feridas, uma delas ainda em estado crítico.
Ao cair da noite de quarta-feira, uma centena de pessoas reuniu-se, em silêncio, em frente à pensão onde as mulheres viviam e acenderam velas, numa vigília improvisada.
“Desde que o novo governo tomou posse, a única coisa que ouvimos são mensagens de ódio contra a comunidade homossexual; a discriminação é permitida”, disse Valeria Bettini, 50 anos, que marcava presença no protesto.
Uma cama queimada estava na rua ao lado de um contêiner de lixo cheio de pertences carbonizados, e uma jovem escreveu cartazes dizendo “chega de crimes de ódio”.
“Estou aqui porque tenho até medo de sair com a pulseira, nunca senti isso antes”, disse Roxana Rega, artesã de 48 anos, que usava uma pulseira tecida com as cores do arco-íris.
Opositores, organizações de direitos humanos e ativistas da comunidade LGBT acusam o governo de Javier Milei de promover discursos de ódio que passam das redes sociais para as ruas.
“Este crime de ódio não é um acontecimento isolado e faz parte dos discursos que são repetidos de forma irresponsável pelo governo nacional”, escreveu o Ministério da Mulher da província, governada pelo partido da oposição.
Desde que assumiu o cargo em dezembro, Milei fechou o Ministério da Mulher, o Instituto Nacional contra a Discriminação e proibiu a linguagem inclusiva em todas as comunicações da administração pública.
Em seu discurso em Davos, em 17 de janeiro, Milei chamou o feminismo de uma “luta ridícula e antinatural entre homem e mulher” e disse que o movimento serve apenas para “dar trabalho aos burocratas”.
A sua chanceler, Diana Mondino, comparou em novembro o casamento igualitário a ter piolhos e, no dia 8 de março, Dia da Mulher, o governo desmantelou o Salão Feminino da Casa Rosada, numa ação considerada como “provocação” pelas organizações feministas.