Este domingo (22) foi de luto para José Leandro Cordeiro da Silva e Valéria Muniz, pais da professora de inglês Dávine Muniz Cordeiro, que foi arremessada de um brinquedo no Mirabilandia, em setembro de 2023. O acidente, ocorrido no maior parque de diversões de Pernambuco, completa um ano no dia 22, reavivando uma série de dores e momentos difíceis para a família.
Dávine ficou gravemente ferida após a estrutura da atração Wave Swinger se soltar enquanto girava em alta velocidade. Com o impacto da queda, a professora perdeu a consciência e sofreu ferimentos na cabeça. Inicialmente, ela foi levada ao Hospital da Restauração, no Derby, área central do Recife, com traumatismo cranioencefálico e lesões em várias partes do corpo.
O parque, localizado em Olinda, foi interditado no mesmo dia pela Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) e por fiscais do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (Crea), que realizaram uma vistoria no local.
Em 24 de setembro, a família de Dávine tentou negociar com o Mirabilandia a transferência da professora para um hospital particular, mas o parque se recusou a custear a internação, alegando que ela não possuía plano de saúde. Em 2 de outubro, o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) determinou que o parque arcasse com os custos da internação, sob pena de multa diária de R$ 5 mil em caso de descumprimento.
Dávine foi transferida para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São Marcos, no Paissandu, no dia 3 de outubro. Já em 2 de novembro, o parque reabriu após 40 dias de interdição, com autorização do Procon e do Crea.
Em novembro, a análise do Instituto de Criminalística revelou que a estrutura do brinquedo se rompeu devido à corrosão dos elos das correntes que sustentavam a cadeira. No dia 18 de dezembro, Dávine apresentou evolução no quadro de saúde, com os pais informando que ela já respirava sem ajuda de aparelhos, embora ainda não conseguisse mexer os braços, as pernas ou falar.
No mesmo mês, o advogado do Mirabilandia relatou que o hospital havia informado que não era mais necessário que Dávine permanecesse internada, devido ao risco de infecção hospitalar. A casa da família, localizada no 1º andar, precisaria ser adaptada para recebê-la com home care, e a família aguardava que o parque custeasse as reformas.
Dávine foi transferida novamente no dia 11 de janeiro de 2024, para o Hospital Hapvida Ilha do Leite, que era coberto pelo seu plano de saúde. No entanto, ela não resistiu e faleceu no dia 1º de fevereiro, após quatro meses de internação.
Durante todo o período, o primo de Dávine, o médico Ricardo Lima, de 52 anos, atuou como porta-voz, atualizando o estado de saúde dela e o impasse com o Mirabilandia. Segundo ele, a família continua profundamente abalada, e a vida dos pais de Dávine mudou completamente após o acidente.
“A família ainda vive aquele luto que sabíamos que duraria muito tempo. O pai conseguiu ‘sobreviver’, mesmo com altos e baixos, tentando levar uma vida ‘normal’. Mas a mãe, infelizmente, continua em depressão profunda e se recusa a sair de casa”, explica Ricardo.
Durante o período de luto e enquanto a filha estava hospitalizada, Leandro Cordeiro e Valéria Muniz tiveram que lidar com questões judiciais para garantir os direitos de Dávine, tornando o processo ainda mais exaustivo. Eles contaram com o apoio de familiares e advogados.
“A maior penalizada foi Dávine, que morreu. E seus pais estão morrendo aos poucos. Dávine não morreu sozinha, os pais também morreram emocionalmente. Eles estão mortos para a sociedade, pois para os outros, o caso acabou, mas a família ainda vive o luto”, desabafa Ricardo.