A alta do preço dos ovos, que impacta negativamente o bolso do consumidor, não tem se refletido em lucro para os produtores do DF. O faturamento se mantém o mesmo, pois o valor do milho e da soja, que alimentam as aves, tem aumentado na mesma proporção. Especialistas destacam a gripe aviária nos Estados Unidos, na Ásia e na Europa como causa do aumento da demanda global e consequente alta nos valores. Enquanto não for controlada a doença, a oferta continuará escassa no mundo inteiro e os preços por aqui continuarão pressionados a médio e longo prazo.
Estudos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA/ESALQ/USP) mostram que, desde a segunda quinzena de janeiro, a disponibilidade de ovos foi reduzida no Brasil, em decorrência do descarte de poedeiras mais velhas. Segundo a Embrapa, a previsão é de que o mercado se normalize no próximo trimestre e a produção permaneça estável, como ocorreu nos últimos 10 anos.
A vegetariana Marizete Ferreira, 59 anos, afirma que o valor do ovo dobrou. "Para quem tem costume de comer ovo todos os dias, pesa muito no bolso. Ainda mais quando mais de uma pessoa em casa consome. E não tem como cortar, pois se não comemos na refeição, usamos praticamente em todas as receitas. Ainda tem aquelas pessoas que fazem dieta ou mantêm uma boa alimentação, que consomem um número muito mais alto", disse a aposentada.
Impacto
Mônica de Azevedo, 61 anos, é a responsável pelas vendas dos ovos na granja Ovoeste — empreendimento que, ao lado do marido, Mauro Alves, 59, tem crescido ao longo dos anos. Começaram com 50 galinhas e hoje contam com mil, ampliando o mercado e levando os produtos diretamente para a casa das pessoas. Para ela, o reajuste dos preços é proporcional à qualidade que eles conseguem manter. De janeiro a março deste ano, a clientela cresceu. O empreendimento passou a contar com 21 novos clientes, totalizando uma média de 170 consumidores. Mesmo com o aumento, os clientes que costumavam comprar duas bandejas de ovos continuam comprando exatamente a mesma quantidade.
Na granja, cada detalhe é cuidadosamente pensado. O preço da bandeja, que contém 30 ovos, passou de R$ 34 para R$ 37 — um acréscimo que representa cerca de 10% no valor unitário do ovo, que foi de R$ 1,10 para R ,23. Em média, são produzidos 240 ovos por dia, o que corresponde a cerca de oito bandejas. Mônica conta que o aumento de preços ocorreu no fim de fevereiro e que, para acompanhar a demanda, foram necessários investimentos na produção. Hoje, contam com 300 pintinhos e 100 novinhas para substituir as galinhas mais velhas.
Porém, os desafios não se limitam ao reajuste de preços. Mônica destaca que os custos com insumos, como ração, embalagens, equipe, combustível e manutenção da horta, também têm aumentado, fazendo com que o lucro na venda permaneça o mesmo. "Priorizamos a qualidade do nosso produto. Se for para servi-los bem, nós pretendemos manter o ganho que tínhamos", afirma.
Porém, os desafios não se limitam ao reajuste de preços. Mônica destaca que os custos com insumos, como ração, embalagens, equipe, combustível e manutenção da horta, também têm aumentado, fazendo com que o lucro na venda permaneça o mesmo. "Priorizamos a qualidade do nosso produto. Se for para servi-los bem, nós pretendemos manter o ganho que tínhamos", afirma.
Desafios
Na Granja Gema do Cerrado Ovos Caipira, a demanda tem crescido de forma constante, e mesmo com a produção diária ultrapassando mil ovos, a granja não consegue atender a todos os pedidos. Em janeiro, a bandeja de 30 ovos era vendida a R$ 35. Agora, com os reajustes necessários para manter a qualidade, o preço chegou a R$ 38. Esse acréscimo decorre dos desafios enfrentados na aquisição de insumos de qualidade. Ney Fábio, 48 anos, responsável pela venda na granja, ressalta que as principais dificuldades são encontrar fornecedor de ração que mantenha a qualidade com um preço mais competitivo.
"A nossa produção de ração foi interrompida devido aos altos custos de energia para o triturador de milho e misturador. Além disso, o aumento do frete e da gasolina impactou no serviço de delivery, que era oferecido sem taxa adicional para o cliente", conta.
Iniciada em 2017, com uma estrutura para 600 aves, a Granja Gema do Cerrado evoluiu para um sistema "free range" que hoje conta com 3 mil aves, embora a produção diária de ovos caipiras permaneça aquém da demanda. Além dos desafios com insumos e logística, a granja também enfrenta limitações na gestão de linhas de crédito, que restringem investimentos em expansão.
O cenário é amenizado pela crescente procura por ovos caipiras de qualidade. "Nossa granja prioriza o bem-estar animal, com galinhas ao natural delas. Temos o acompanhamento da Emater em Ceilândia, o que caracteriza um produto de excelência, e uma procura grande de atacado. Mesmo assim, não temos obtido lucro por causa do aumento de todos os insumos", finaliza.
Paulo Nunes Borges, que produz ovos no DF há sete anos, alega que tem diminuído o próprio lucro para não repassar o valor do aumento para os clientes. "Já tinha elevado o preço por causa da alta no combustível. Se aumentar novamente, perco a clientela", diz. "Melhor perder lucro do que cliente", completa.
Causas
Além dos altos valores dos insumos, especialistas também atribuem a alta no preço dos ovos à gripe aviária nos Estados Unidos, na Ásia e na Europa. "A dúzia do ovo no mercado externo chegou a U$ 6, sendo que, historicamente, o valor ficava entre U$ 2 e U$ 2,5. O produtor brasileiro está tendo uma oportunidade de criar um novo mercado e, eventualmente, ampliar a produção para, mais para frente, quando tudo se estabilizar, vender um pouco para lá e normalizar aqui dentro, barateando o preço", avalia o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz. "Creio que a tendência é continuar alto", afirma.
"Existe uma diminuição da oferta global de ovos. Enquanto não for controlada a doença, a oferta continuará escassa no mundo inteiro e os preços por aqui devem continuar pressionados a médio e longo prazo", acrescenta o economista Gilberto Braga.
Projeção
Entre 2009 e 2024, o mercado de ovos no DF se manteve constante em termos de produção. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a média de de ovos produzidos está em torno de 14 mil dúzias em 2024, fruto da produção de 800 mil aves no último trimestre de 2024 no Distrito Federal. Reflexo também do aumento da produção no Brasil, que produziu 4,6 milhões de dúzias de ovos. O aumento em torno de 6,1%, nos últimos quatro anos, se repetiu na Região Centro-Oeste, com 564 milhões de dúzias e aumento de 13%.